quarta-feira, abril 26, 2006

Varig: o fatalismo da imprensa não sobrevive à dedicação

Data: Segunda-feira, 24 de Abril de 2006 (16:35:18)

Nunca uma empresa privada foi alvo de uma campanha e de manchetes tão violentas, publicadas simultaneamente e de forma sincronizada, defendendo o fim da companhia e dos seus quase dez mil postos de trabalho.

Será necessário que o mundo acadêmico analise o comportamento da imprensa brasileira no caso Varig. Neste cenário, o professor Alberto Dines, um dos mais espeitados jornalistas brasileiros e que nos últimos anos tem analisado sem dó em piedade o comportamento da nossa mídia, encontrará muita matéria-prima para o Observatório da Imprensa, que foi um projeto original do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e hoje é mantido pelo Projor - Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo.

Nunca uma empresa privada foi alvo de uma campanha e de manchetes tão violentas, publicadas simultaneamente e de forma sincronizada, defendendo o fim da companhia e dos seus quase 10 mil postos de trabalho.

Que tanto mal teria cometido a Varig para ser alvo de tamanha fúria? O Jornal O Estado de São Paulo defendeu em editorial o fim da empresa. A Revista Veja elencou razões para o Governo não ajudar a Varig. A Folha de São Paulo chegou a anunciar o fim da empresa. O gaúcho Zero Hora deixou de lado o bairrismo e também decretou o fim próximo da sua conterrânea. Era como se todos torcessem para que o fim chegue logo e houve até jornal que em tom de obituário resolveu contar a história da Varig no seu site. O mais grave é que, por ter os grandes jornais serviços noticiosos que alimentam a imprensa de todo o país, estas matérias ganharam espaço em dezenas de outros jornais no Brasil. Apesar da "morte anunciada" nas manchetes a empresa continuou voando, com aviões cheios, passageiros cativos e atendidos por cordiais tripulantes.

Por que tanto pessimismo e disposição de colocar a Varig no chão? O pior é que por ser uma empresa privada e que depende do fluxo de passageiros as próprias manchetes poderiam ter contribuído para se transformar em realidade. O sensacionalismo da mídia poderia ter provocado uma corrida, afastando de verdade os passageiros e iniciando um ciclo de sufocamento.

Num primeiro momento, o susto realmente aconteceu e a engrenagem quase foi travada. Não apenas o mercado ficou assustado com o noticiário, também o corpo funcional ficou abalado. Foi a primeira vez que a companhia sentiu um olavanco tão forte na sua receita e no seu horizonte. Afinal a morte da Varig era anunciada com dia e hora marcada. Quem imaginaria que a imprensa brasileira seria tão irresponsável de assumir tal postura. A credibilidade inicial das manchetes foi se evaporando com o passar do tempo.

O passar dos dias ajudou a superar a morte anunciada. De quinta, pulou para a semana seguinte e o fim não chegou como torciam os mórbidos jornalistas. Os primeiros acenos não vieram de Brasília como se esperava, ou de nenhum entreposto do poder concedente. Pelo contrário, o Governo Federal jogou mais lenha na fogueira. A reversão do quadro se deu com uma corajosa postura do juiz titular da 8ª Vara Empresarial José Roberto Ayoub, que reuniu a imprensa e, ao contrário do que os repórteres nervosamente esperavam, não anunciou o fechamento da empresa, mas que tudo estava normal e que a Varig era viável. Na ante-sala do juiz um jovem e nervoso advogado da BR Distribuidora, tremendo perante a uma avalanche de microfones, anunciava que a estatal não iria dar prazo. Entre as palavras de bonança do experiente juiz e os comentários do jovem advogado, boa parte da imprensa preferiu dar a sua manchete para a notícia ruim. A Anac - Agência Nacional de Aviação Civil também fez a sua parte com as palavras tranqüilizadoras do seu presidente, Milton Zuanazzi.

Neste contexto é necessário fazer justiça ao variguiano, o corpo funcional da companhia, que mesmo tendo a sua poupança previdenciária evaporada com a liquidação do Aerus e com os salários atrasados, está dando uma aula de civilidade e de amor a empresa. Todos estão unidos, trabalhando de forma ordenada e não deixando as manchetes virarem realidade. São poucas as companhias que possuem um corpo funcional tão dedicado e fiel. Eles demonstram que amam verdadeiramente a estrela brasileira que colocam no peito. Quem voou na Varig nos últimos dias não pode acreditar nas manchetes. Os vôos saíram nos horários, o serviço de despacho foi atencioso, as bagagens chegaram e tudo funcionou como sempre. Todos trabalhando com uma tremenda boa vontade. Quem desembarca contente de uma viagem com aviões cheios questiona na hora: por que tanta raiva contra a Varig?

A aviação que corre nas veias dos variguianos é patriótica e tem a cor verde-amarela. O refluxo das notícias positivas já voltou a acontecer e alguns veículos começaram a rever o seu ponto de vista e procuraram fazer justiça. Os passageiros mantiveram-se fiéis. Quem perde é a credibilidade da imprensa alarmista que utiliza o poder das manchetes para crucificar sem nenhum remorso um dos símbolos internacionais do Brasil. Faltam-lhe patriotismo e amor à soberania dos fatos. A imprensa brasileira vive uma crise epidêmica, na qual toda uma geração parece compreender que só existe compromisso com o fatalismo e a necessidade de transformar a desgraça alheia em manchete, sem se importar com os sofrimentos e prejuízos que possam causar.



Cláudio Magnavita é presidente nacional da Associação Brasileira de
Jornalistas de Turismo, membro do Conselho Nacional de Turismo e diretor do Jornal de Turismo.






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Um comentário:

  1. Impressionane como esse texto foi sumariamente bem escrito, atacando justamente a imprensa no que ela mais me irrita: a impressa mentirosa, que quer o mar pegando fogo pra ver nadador sem pele e servir esse prato no jantar. Infelizmente, ao inves de ajudar, essa midia toda, brilhantemente chamada ALARMISTA pelo colunista, acaba por atrapalhar um processo que poderia levar muito menos tempo, se tivesse ajuda de fora. De dentro, eu vejo por voce mesmo, como esta os variguianos: fortes e voadores, como a águia que quebra as proprias unhas e bicos para sobreviver. Nao trabalho lá, mas sei a imagem que a Varig tem e, sim, VIVA VARIG!!!

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